Sábado, 17 de Novembro de 2007

Arte

Foto de SizaVieira

De “um leitor pessoano” recebi este texto:

Se a arte se ocupa de mostrar o que não tem forma, o indizível, o inconsciente colectivo, transcendente, o “nada que é tudo”, o Livro do Desassossego, que fala de nada, uma biografia do sentir, criando um “semi-heterónimo” que é o autor amputado do seu lado social, do seu humor visível, é arte suprema: fala do que é tão fundo em nós que é o fundo comum a todos. Creio que a Rua dos Douradores será conhecida nos planetas para onde emigrarmos.

Partilho este ponto de vista—se não, não o teria escrito—e reservo-me o direito de partilhar outros; ver de cima e ver de baixo, de frente e por trás, da direita e da esquerda. O que vemos pode parecer muito diferente, de outro lado, sendo o mesmo, paradoxalmente. Gosto de pensar que há um sétimo ponto de vista, o do objecto; a partir daí não se vê nada e vê-se tudo, estamos no centro; não se vê a aparência tridimensional, sente-se, porém, o sítio onde se está. O arquitecto, que se não esquece do “alçado” da cobertura, esquece-se, muitas vezes, de ver o edifício por baixo, como a Terra o vê. E, muito mais vezes, de o ver como ele se vê a si mesmo, ali. De o ver, de fora, e sentir o que ele sente estando ali, que quer olhar, que receios tem, está de bem consigo, quer ajuda?

Por isso, quando alguém me diz que é de direita ou de esquerda eu lhe tento mostrar os outros lados. Quando me diz que não há esquerda e direita eu posso pensar que está preso ao que sente e sentir simpatia por quem não sabe ver-se por fora, dar uma volta pelo que os outros sentem… ou posso, a partir da esquerda, dizer-lhe que está a ver a realidade a partir da direita. Mas a esquerda é onde este pretenso astrólogo se sente mais confortável (razoável?), confesso!

 

publicado por paradoxosfilho às 09:50
link | comentar | ver comentários (2) | favorito
Quinta-feira, 15 de Novembro de 2007

El Cumbre

El Cumbre

A Cimeira Ibérica é comunicação. É comunicação entre os países da nossa civilização ibérica, para a qual imagino um transcendente destino, uma contribuição essencial para a passagem global para a era de Aquário, para um mundo mais fraterno e racional.
A essência está na relação entre os países do novo mundo e os do velho, nós, Portugal e Espanha. Há um passado em que tivémos poder, semeámos países novos. Eles acolheram emigrantes de todo o mundo e, hoje, são muito mais que as colónias que foram. Mas a história existe.
É uma história de amor, de que as guerras fazem parte. Sentimos o novo mundo como uma esperança, o “El Dorado”, as possibilidades infinitas de ultrapassar as nossas misérias; a natureza e as gentes encantam-nos. É amor o sentimento que temos. O “I Ching” simboliza o amor na relação entre o pai e o filho; nós sentimos que o filho cresceu, é independente, quiçá mais alto que nós, mas ainda o olhamos de cima para baixo, paternalistamente. Queremos ajudar, ensinar e, hoje, é tempo de transformar esse amor em boa comunicação, de mútuo respeito, de criação partilhada de um sonho abrangendo ambos.
Deixámos uns restinhos de racismo que não queremos, social e cultural, ligado aos latifúndios dos nossos descendentes, uma estrutura que não vai ser fácil ultrapassar sem dor.

O presidente eleito da Venezuela, Chávez, sofreu, há uns anos, um golpe de estado, cozinhado pela CIA, à maneira da substituição de Allende por Pinochet, mas que não resultou. Ele saiu reforçado em poder e zangado com a graça. Na altura o embaixador espanhol tentou relacionar-se com o novo regime— o que não vingou— pensando, paternalistamente, que Espanha teria que continuar presente, que teria que aproveitar as suas boas relações com os americanos para ajudar a Venezuela. Era o governo de Aznar, que apoiou a guerra do Iraque. O Rei de Espanha poderia ter condenado o golpe e não o fez. Espanha teria que se dar com a Venezuela, fosse qual fosse o regime político dela, terá pensado; deixou, democrata, o seu governo, Aznar, eleito, agir.
Chávez, nacionalizado o petróleo, tem poder para fazer o que entende por socialismo, o seu programa eleitoral. Desejável para nós, europeus, é que ele se mantenha respeitador da Declaração Universal dos direitos humanos, o que será muito difícil, convenhamos! Parece que já houve alguns atropelos. Para fazer vingar a sua nova Constituição, que, além de incomodar os velhos latifundiários incomoda muitos imigrantes recém enriquecidos, apoia-se nos mais pobres e lembrou-se de ir buscar o velho ressentimento contra o colonizador, emoção que espera lhe dê força. Assim, chamou fascista a Aznar na Cimeira Ibérica e o primeiro-ministro de Espanha veio defender o seu antecessor. Parece que Chávez lhe cortou a palavra, encarniçado contra Aznar. Competiria a um moderador da Cimeira pedir-lhe que deixasse Zapatero falar. Mas foi o Rei de Espanha, que estava entre os dois, quem disse, visivelmente irritado: “Porque não te calas?”. Exactamente o que Chávez queria ouvir, para consumo interno, como ora se diz.

O paradoxo é que Juan Carlos, tendo razão, deveria ter ficado calado. Devemos ouvir para nós as críticas, mesmo justas, que fazemos aos outros. A si mesmo o Rei de Espanha disse “porque não te calas?”. E a resposta é interessante. Não se calou porque havia emoção, frustração e a expressão é um alívio, que justificamos quando nos exprimimos assim, a quente, com a justiça do que dizemos. Por um lado um Rei transporta uma história, houve um tempo em que ninguém se atreveria a desrespeitá-lo. Trata-se de uma pessoa civilizada, que assumiu a sua responsabilidade de ajudar Espanha a recuperar a democracia, sentiu-se com autoridade (paternalista) para sugerir a Chávez como se comportar (sugestão que se assemelhou a uma ordem). E deve carregar o incómodo, a frustração, de, sendo Rei, ter escolhido deixar Aznar “apoiar” o tal golpe, deve ter pena de não ter agido nessa altura; mas não podia, é frustrante não ter poder, são tempos difíceis para os Reis.

Oxalá todos façam uma análise cuidadosa, desfaçam malentendidos, usem a paciência. Não me parece que o perdão, as desculpas, o deitar as coisas para o tal poço sem fundo, ajude. Amor há, abundante. Comunicação exige a procura cuidadosa da verdade. Há interesse mútuo no relacionamento. É mesmo, passe a esperança, da criação de civilização que estamos a fazer, os povos desta cimeira, que pode nascer a nova era. A forma paradoxal que alie as vantagens da velha civilização europeia com a liberdade e o “socialismo” do novo mundo. 
 

publicado por paradoxosfilho às 12:14
link | comentar | ver comentários (10) | favorito
Segunda-feira, 12 de Novembro de 2007

Investir com raiva

Diz-se do touro, que investe com raiva quando vê vermelho. Mas falo de investir à maneira capitalista, de investir essa energia, que nasce das frustrações, em algo que renda algo. Que renda em uma outra energia, não destrutiva, algo que nos evite as frustrações que a fizeram nascer! Afinal o capital também nasce de uma violência, de um roubo, e, depois, é um gosto vê-lo dar frutos, se bem semeado e cuidado— investido!

Uma cosmogonia é uma ambição milionária, mas diz-se que todas as grandes viagens começam com um pequeno passo. E creio que compete, a cada um de nós, fazer a grande viagem de dar sentido à sua vida, cada um tem por destino criar uma cosmogonia, nascemos para milionários, quer lá cheguemos quer não.

Na verdade cada um de nós tem aqui, no Internet, as bases para começar. Falo da Astrologia, ela mesma uma cosmologia, que podemos consultar em astro.com, por exemplo. Assim, este que escreve, com o Sol na sétima casa, que é a casa da relação com o outro, vê nisso, na comunicação (porque isto se passa em Gémeos, o signo da comunicação) o assunto central porque viemos ao mundo. Todas as cosmogonias são assim, subjectivas, querendo-se de alcance universal! Por isso se diz que é quem escreve que vê a relação com cada uma das outras pessoas, que por aqui andamos, como o centro, o Sol à volta do qual tudo gira.

E que nos propõem para bem nos relacionarmos, desde Jesus Cristo aos filmes americanos? O Amor.

Como proponho algo diferente, começo por falar das insuficiências dessa panaceia universal, das razões porque falha. Amor é aceitação incondicional, assim como um poço sem fundo para onde se lançam todos os mal-entendidos, tudo o que caia mal, que pareça agressão, que pareça mentira, que pareça egoísmo, por aí fora. Como o poço não tem fundo, todo o entulho desaparece da vista e o entendimento é perfeito. É? Mas, com tanto ignorar, deitar para trás das costas, que fica de comunicação? De conhecimento do outro? E se, quando se quer esclarecer aparece mais entulho, ou o mesmo, rapidamente descartado para o poço sem fundo, que comunicação há?

— Continua a aceitação incondicional do mistério, dir-me-ão, e é no mistério que reside o encanto do Amor. Está bem, para uma cosmogonia feita à volta de Vénus, o símbolo do amor (ou melhor, de Nepturno, a sua oitava superior, ver comentário) , aí trata-se apenas de manter limpo o poço sem fundo, para que não haja obstruções ao eliminar seguro do desagrado.  

       Mas se a cosmogonia for feita à volta do conhecimento do outro, da sua alma, que se exprime em pensamentos, em palavras, em actos e em outras dicas para a intuição entender, então ela fica sem nada. Ficamos com a projecção que fizemos no outro dos nossos ideais, a aceitação incondicional fica reduzida à aceitação incondicional de o que há em nós de ideal, não do outro. E nada de comunicação (faço aqui um parêntesis para dizer que, por mais largo que seja o poço sem fundo, há sempre entulho que o possa obstruir, e, quando aparece à superfície, acaba o amor)

 

       O que proponho é a clareza, não precisamos de um poço sem fundo para deitar o lixo, precisamos de uma tal limpeza na comunicação que não haja detritos. Precisamos de definir cada palavra, de curar cada mal-entendido, com uma paciência infinita, até que não haja mal-entendido nenhum, haja um desacordo claro, esse sim, passível de aceitação incondicional. O outro é diferente, sabemo-lo, só queremos conhecer como, onde, porquê. E procurar em conjunto uma hipotética verdade mais abrangente, que englobe a contradição entre ambos.

       Não é preciso, para não aceitar este ponto de vista, ser do parecer que a verdade não interessa, que o que interessa é o bom entendimento entre as pessoas (ele há quem assim pense!); basta ter o, bem vulgar, preconceito contra a mesquinhez. Se o esclarecimento for cortado com esse preconceito, se faltar a tal paciência infinita para analisar o significado preciso de uma interjeição, por exemplo, em não havendo poço sem fundo onde a deitar, tudo falha. Ou seja, a verdade e a ausência de preconceitos, são, nesta minha proposta, bases fundamentais para o relacionamento. E o que de mais interessante e enriquecedor temos neste mundo para viver são os outros. Mas, claro, é um ponto de vista. Um olhar. O fruto de um investimento.

Bull tie

publicado por paradoxosfilho às 22:49
link | comentar | ver comentários (6) | favorito
Segunda-feira, 5 de Novembro de 2007

Europa

Vinha a pensar que estamos no futuro
Que o criámos com os nossos sonhos dele,
Imaginámo-lo, chamámo-lo

A maçã proibida, tentadora, misteriosa
Apetitosa
Em caixas infinitas, sempre a mesma, exacta,
Sem aroma de paraíso, só com o nome dele

Mas, à minha frente, uma avó, pequenina e lesta, contente,
entrava num táxi, saída de uma casa térrea,
nestes restos de aldeia que há no Porto.
Uma rapariga acompanhou-a à porta e, depois,
um cão veio se despedir, também;
ficou na soleira, simpático.

Senti que via um filme americano com cinquenta anos
E lembrei-me que estava no futuro:
Dantes aquelas casas eram pobres e sonhavam esses filmes.

Os milhões de leis de Bruxelas,
Que não conheço e que tanto me pesam,
Na imaginação

Sumiram-se no alívio da miséria
No ar pachorrento e feliz daquele cão

 

 

publicado por paradoxosfilho às 23:59
link | comentar | ver comentários (1) | favorito
Relógio do Mundo As horas nas principais cidades

.arquivos

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

. Setembro 2007

. Agosto 2007

. Junho 2007

. Maio 2007

. Abril 2007

. Março 2007

. Fevereiro 2007

. Janeiro 2007

. Dezembro 2006

. Novembro 2006

.Janeiro 2009

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

11
12
13
14
15
16
17

18
19
21
22
23
24

25
26
27
28
29
30
31


.links

.favorito

. Arte

. Afirmações de um pedreiro...

. Paradoxos filho

. Bem aventurados os pobres...

. Dignidade e respeito

. 50 anos

. O poder não é útil

. O Sol e a Lua 3

. Aquecimento global, relat...

. Escrever

.posts recentes

. Sob o signo de Sagitário

. Shministim

. "Desejo ser um criador de...

. hum

. A Verdade interessa

. Toghether

. "The true genius of Ameri...

. On the top of the world

. "De alma e coração", Uran...

. A Democracia americana ai...

. Zeitgeist

.tags

. 25 de abril

. aborto

. américa do sul

. amor

. analogias

. aquecimento global

. aristóteles

. astrologia

. beatles

. bento xvi

. bob dylan

. bolhão

. bom senso

. brasil

. bush

. caos kafkiano

. castelhano

. charlot

. chavez

. cidades

. ciência

. co2

. Constituição

. criatividade

. crise climática

. crop circles

. democracia

. desenvolvimento

. dignidade

. direita

. direitos humanos

. dr. mendes

. durão barroso

. ecologia

. educação

. emoção

. energia

. erro

. espírito

. esquerda

. estética

. ética

. europa

. f. pessoa

. f.pessoa

. família

. fome

. fumar

. g8

. gaia

. gelo

. globalização

. hipocrisia

. hospital

. humildade

. humor

. iatrogénica

. Ibéria

. império

. imprensa

. inconciente

. inconsciente

. infância

. iraque

. Islão

. jihad

. josé socrates

. jovens

. justiça

. karl marx

. lei

. liberdade

. livro-do-desassossego

. lua

. marilyn

. marx

. meninos

. modernidade

. montados

. natal

. naus

. obama

. onu

. opinião pública

. pão

. papa

. paradoxos

. paz

. petróleo

. platão

. plutão

. poder

. razão

. realidade

. respeito

. salazar

. sócrates

. turquia

. utopia

. verdade

. todas as tags

OnlineConversion.com É um conversor para todas as medidas