Quinta-feira, 15 de Novembro de 2007

El Cumbre

El Cumbre

A Cimeira Ibérica é comunicação. É comunicação entre os países da nossa civilização ibérica, para a qual imagino um transcendente destino, uma contribuição essencial para a passagem global para a era de Aquário, para um mundo mais fraterno e racional.
A essência está na relação entre os países do novo mundo e os do velho, nós, Portugal e Espanha. Há um passado em que tivémos poder, semeámos países novos. Eles acolheram emigrantes de todo o mundo e, hoje, são muito mais que as colónias que foram. Mas a história existe.
É uma história de amor, de que as guerras fazem parte. Sentimos o novo mundo como uma esperança, o “El Dorado”, as possibilidades infinitas de ultrapassar as nossas misérias; a natureza e as gentes encantam-nos. É amor o sentimento que temos. O “I Ching” simboliza o amor na relação entre o pai e o filho; nós sentimos que o filho cresceu, é independente, quiçá mais alto que nós, mas ainda o olhamos de cima para baixo, paternalistamente. Queremos ajudar, ensinar e, hoje, é tempo de transformar esse amor em boa comunicação, de mútuo respeito, de criação partilhada de um sonho abrangendo ambos.
Deixámos uns restinhos de racismo que não queremos, social e cultural, ligado aos latifúndios dos nossos descendentes, uma estrutura que não vai ser fácil ultrapassar sem dor.

O presidente eleito da Venezuela, Chávez, sofreu, há uns anos, um golpe de estado, cozinhado pela CIA, à maneira da substituição de Allende por Pinochet, mas que não resultou. Ele saiu reforçado em poder e zangado com a graça. Na altura o embaixador espanhol tentou relacionar-se com o novo regime— o que não vingou— pensando, paternalistamente, que Espanha teria que continuar presente, que teria que aproveitar as suas boas relações com os americanos para ajudar a Venezuela. Era o governo de Aznar, que apoiou a guerra do Iraque. O Rei de Espanha poderia ter condenado o golpe e não o fez. Espanha teria que se dar com a Venezuela, fosse qual fosse o regime político dela, terá pensado; deixou, democrata, o seu governo, Aznar, eleito, agir.
Chávez, nacionalizado o petróleo, tem poder para fazer o que entende por socialismo, o seu programa eleitoral. Desejável para nós, europeus, é que ele se mantenha respeitador da Declaração Universal dos direitos humanos, o que será muito difícil, convenhamos! Parece que já houve alguns atropelos. Para fazer vingar a sua nova Constituição, que, além de incomodar os velhos latifundiários incomoda muitos imigrantes recém enriquecidos, apoia-se nos mais pobres e lembrou-se de ir buscar o velho ressentimento contra o colonizador, emoção que espera lhe dê força. Assim, chamou fascista a Aznar na Cimeira Ibérica e o primeiro-ministro de Espanha veio defender o seu antecessor. Parece que Chávez lhe cortou a palavra, encarniçado contra Aznar. Competiria a um moderador da Cimeira pedir-lhe que deixasse Zapatero falar. Mas foi o Rei de Espanha, que estava entre os dois, quem disse, visivelmente irritado: “Porque não te calas?”. Exactamente o que Chávez queria ouvir, para consumo interno, como ora se diz.

O paradoxo é que Juan Carlos, tendo razão, deveria ter ficado calado. Devemos ouvir para nós as críticas, mesmo justas, que fazemos aos outros. A si mesmo o Rei de Espanha disse “porque não te calas?”. E a resposta é interessante. Não se calou porque havia emoção, frustração e a expressão é um alívio, que justificamos quando nos exprimimos assim, a quente, com a justiça do que dizemos. Por um lado um Rei transporta uma história, houve um tempo em que ninguém se atreveria a desrespeitá-lo. Trata-se de uma pessoa civilizada, que assumiu a sua responsabilidade de ajudar Espanha a recuperar a democracia, sentiu-se com autoridade (paternalista) para sugerir a Chávez como se comportar (sugestão que se assemelhou a uma ordem). E deve carregar o incómodo, a frustração, de, sendo Rei, ter escolhido deixar Aznar “apoiar” o tal golpe, deve ter pena de não ter agido nessa altura; mas não podia, é frustrante não ter poder, são tempos difíceis para os Reis.

Oxalá todos façam uma análise cuidadosa, desfaçam malentendidos, usem a paciência. Não me parece que o perdão, as desculpas, o deitar as coisas para o tal poço sem fundo, ajude. Amor há, abundante. Comunicação exige a procura cuidadosa da verdade. Há interesse mútuo no relacionamento. É mesmo, passe a esperança, da criação de civilização que estamos a fazer, os povos desta cimeira, que pode nascer a nova era. A forma paradoxal que alie as vantagens da velha civilização europeia com a liberdade e o “socialismo” do novo mundo. 
 

publicado por paradoxosfilho às 12:14
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De OV a 14 de Março de 2008 às 16:19
Eu não suporto quem tente mudar pela força as opções das outras pessoas; nem tão pouco aceito a ingerência de quem quer que seja, muito menos do Governo, na forma como defendo livremente os meus interesses (pessoais, económicos, profissionais). Quer isto dizer que sou, acima de tudo, um liberal.

Quando me digo liberal, digo-o no sentido de que não quero impor nada a ninguém, apesar de poder defender veemente a minha opinião e os meus interesses. E parto do pressuposto de quem não é liberal (neste sentido) é porque me quer impor qualquer coisa. Ora, eu não aceito que ninguém me imponha nada e qualquer uso de violência (física ou psicológica) nesse sentido, tem resposta no mesmo tom. Valorizo mais a minha liberdade do que a minha própria vida e, por inerência, a vida de quem me a quiser retirar.

Posto isto, nunca conseguiria perfilhar das ideias autoritárias de Chavez e certamente iria me defender de uma ditadura com a minha própria vida.
Já quanto a democracia, esta pode ser boa ou má, depende do uso que se faça da mesma. Sou a favor de uma democracia social na medida em que estabelece regras para que se possa estabelecer, socialmente, a diferença entre o bem e o mal. E essa diferença (entre bem e mal) tem de ser, como sempre foi, estabelecida pela sociedade, cultura dos povos, pela mudança de mentalidades e deve ser decida, em termos regulativos, pela colectividade (pela sociedade), ainda que através de um governo representativo, mas não pode, em nenhuma circunstância, ser decidido por poucos o destino de muitos.

(continua.)


De OV a 14 de Março de 2008 às 16:20
Mas infelizmente, a democracia no mundo, tem sido apenas o hastear de uma bandeira de paternalismo social, usada para tirar a liberdade de muitos em favor de poucos. Há, sem dúvida, uma imisção do governo, de todos os países, até dos EUA, na forma como impende, por um lado, que os diversos interesses se manifestem livremente e, por outro, com protegem aqueles que devem ser penalizados, conferindo a quem faz asneiras um estatuto de impunidade total, promovendo assim a continuação de “delitos” que não respeitam as liberdades dos outros. Um bom exemplo disso, é, sem dúvida, o caso do subprime nos EUA e as medidas político-económicas adoptadas no sentido de beneficiar aquelas que, irresponsavelmente, fizeram NINJA (No Income No Job and Assets) Loans e que hoje, sem poderem pagar (o que nunca pensaram pagar), se encontram numa situação de protecção do Governo, fazendo assim com que se crie assimetrias difíceis de ultrapassar com aquelas pessoas, responsáveis, que optaram por casas mais modestas. Mas isto, é daquelas coisas que não é preciso ir aos EUA para verificar, pois certamente encontraremos, bem perto de nós, pessoas que tem comportamentos desviantes e continuaram a mantê-los apenas porque se sentem impunes e protegidos por uma democracia social e paternalistas.

Mas é essa atitude paternalista (e diria que o paternalismo é algo muito próximo da ditadura, até pelo sentido de posse da própria palavra), escondida sobre o pano da democracia e socialismo, que muitas vezes conduz as pessoas de encontro à mediocridade. Isto porque, prejudicar (tirar a) alguém que se esforça para proteger (dar a) outro alguém que age irresponsavelmente ou tem pouco porque não se esforçou, só vai promover que o que faz bem e se esforça, deixe de fazer bem e deixe de se esforçar.

Eu sou liberal mas democrata, mas no verdadeiro sentido da democracia e da liberdade.

Eu não tenho duvidas que os processo políticos e de regulação em excesso são menos eficientes que os mecanismos do próprio mercado e da própria natureza, em que o equilíbrio de interesses manifestados funciona como um ecossistema (em que se uma determinada espécie decresce, as que se alimentam dela -ou as que podem substituir a sua alimentação - têm tendência a decrescer também e por ai adiante. Se uma espécie cresce, as que se alimentam dela tem tendência a crescer, e as que servem de alimento tem tendência a diminuir. Tudo isto chega a uma altura em que se vai naturalmente equilibrar, mas nesse período todos dependerão e continuaram a depender de todos.), mas também sei que temos de ter presentes determinadas processos políticos e determinada regulação, isto porque o mercado e os INTERESSES das pessoas por si próprios são amorais e vão agir sempre na defesa e alcance dos seus próprios interesses, pelo que não há duvida que é necessário balizar a forma como esses interesses se podem manifestar, mas nunca se pode submeter esses interesses a restrições em prol de quem nada faz por eles, pois isso era tirar a eficiência ao mercado e do sistema judicial. Os interesses dos diversos agentes não se podem submeter a juízos morais, pois as pessoas devem ser livres de defender livremente os seus interesses.

Em face de tudo isto, só tenho a dizer uma coisa, o Chaves tentou, de alguma forma, defender os seus interesses, e, independentemente do modo como os manifestou, o Rei de Espanha, teve a mesma legitimidade para defender os seus. Criticar isso, é criticar a liberdade do Rei de Espanha a manifestar-se e a defender livremente os seus interesses. Ora, isso não é democracia, pelo contrário, é ditadura.


De paradoxosfilho a 18 de Março de 2008 às 11:27
Só agora reparei no comentário, desculpa! Tens a mesma posição do meu amigo Fernando Pessoa. Tem graça que, quando comprei este livro, há umas duas semanas, pensei em dar-te um: “Organizem-se! A Gestão segundo Fernando Pessoa”. Se ainda houver está prometido. Eu não me parece que as leis da natureza se apliquem às construções sociais humanas de uma forma tão linear… e creio que nos faltam muitos reguladores anti-trust que os americanos teem a funcionar. A lei da selva é aqui, pelo menos para os que se não atrapalham com a burocracia LOL
Muito obrigado por comentares e um abraço. Ah! Sobre o Chavez podes ler o post “Respeito pelo outro”, que é pequenino: http://otirsense.blogspot.com/2008/01/respeito-pelo-outro.html


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