Sábado, 17 de Novembro de 2007

Arte

Foto de SizaVieira

De “um leitor pessoano” recebi este texto:

Se a arte se ocupa de mostrar o que não tem forma, o indizível, o inconsciente colectivo, transcendente, o “nada que é tudo”, o Livro do Desassossego, que fala de nada, uma biografia do sentir, criando um “semi-heterónimo” que é o autor amputado do seu lado social, do seu humor visível, é arte suprema: fala do que é tão fundo em nós que é o fundo comum a todos. Creio que a Rua dos Douradores será conhecida nos planetas para onde emigrarmos.

Partilho este ponto de vista—se não, não o teria escrito—e reservo-me o direito de partilhar outros; ver de cima e ver de baixo, de frente e por trás, da direita e da esquerda. O que vemos pode parecer muito diferente, de outro lado, sendo o mesmo, paradoxalmente. Gosto de pensar que há um sétimo ponto de vista, o do objecto; a partir daí não se vê nada e vê-se tudo, estamos no centro; não se vê a aparência tridimensional, sente-se, porém, o sítio onde se está. O arquitecto, que se não esquece do “alçado” da cobertura, esquece-se, muitas vezes, de ver o edifício por baixo, como a Terra o vê. E, muito mais vezes, de o ver como ele se vê a si mesmo, ali. De o ver, de fora, e sentir o que ele sente estando ali, que quer olhar, que receios tem, está de bem consigo, quer ajuda?

Por isso, quando alguém me diz que é de direita ou de esquerda eu lhe tento mostrar os outros lados. Quando me diz que não há esquerda e direita eu posso pensar que está preso ao que sente e sentir simpatia por quem não sabe ver-se por fora, dar uma volta pelo que os outros sentem… ou posso, a partir da esquerda, dizer-lhe que está a ver a realidade a partir da direita. Mas a esquerda é onde este pretenso astrólogo se sente mais confortável (razoável?), confesso!

 

publicado por paradoxosfilho às 09:50
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Segunda-feira, 26 de Março de 2007

Uma fantuchada incómoda

Salazar ganhou o concurso da RTP para escolher o maior português de todos os tempos!

É certo que votaram 200 e tal mil pessoas, ou seja apenas 2 % dos portugueses, é certo que foi uma oportunidade de revanchismo, enquanto os portugueses democratas (os que se deram ao trabalho de votar neste concurso) se dispersaram por tantas possibilidades, os saudosos do tirano se concentraram no mesmo voto. No tempo da outra senhora, Salazar era, para os seus adeptos, o maior português de sempre; para os seus adversários nem sequer havia unanimidade em que fosse o pior!

Está de parabéns a direita, soube ser eficaz para ganhar um concurso televisivo. E estão de parabéns os democratas, que permitem que a direita se exprima. Quanto a Portugal…é paradoxal!

   N.B. O Público de ontem, 27 de Março, fala em 50 mil votantes, dos quais 7 mil em Salazar (seriam 0,07% dos portugueses, incómodo, apesar de tudo!)

publicado por paradoxosfilho às 01:59
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Da direita (texto de 2005)

Se houver uma realidade objectiva, independente do observador que somos – coisa pouco provável, diga-se! — as palavras nunca a dirão bem. Se falarmos da realidade das palavras, de uma que se molde a elas, mesmo assim há quem dê às palavras conteúdos diferentes; conteúdos aparentados, muitas vezes, mas sempre diferentes, variando com a sub cultura dentro da língua.

Resta dizer o que é a direita neste texto (escrito às 6 da manha para substituir os cigarros).

A direita é o ponto de vista conservador (a esquerda o inovador). Tem, portanto, razão de ser se a inovação for para piorar e não tem razão se ela for para melhorar. Mas a direita é também o temperamento que se atém ao ponto de vista conservador, aquele que tem medo da mudança só porque é mudança. A esse temperamento, o estudo só interessa se for ajudar a manter tudo como está, no essencial. “É preciso que mude alguma coisa para que tudo fique na mesma”, como dizia o belo príncipe siciliano, personagem de Visconti, face às mudanças que Garibaldi trazia.

Há uma direita inteligente, ou melhor, que vê as coisas como são—na medida em que isso possa ser!—direita que sabe que as sociedades são injustas, mas que não acredita que possam deixar de o ser. Baseia-se na História, mas essa pode ter sido escrita por quem tenha apagado—ou nem mesmo pensado em inclui-los—alguns momentos em que houve justiça, no sentido social da igualdade, não apenas no legal.

O problema com a direita, como com tudo, é o exagero. O temperamento conservador pode cair na tentação de negar a evidência. Pode mesmo proibir que se diga o que vier pôr em causa o pensamento habitual, tranquilizador, os hábitos. A censura é de direita. Se Estaline a usou foi de direita.

O lado chocante da direita não é bem o ser conservadora, é o uso do poder para negar o diálogo, a procura de verdades novas. Para negar o direito de pensar, de escrever, de procurar a Verdade (claro que é provável que não exista, mas dessa procura se tem feito a civilização).

Pode-se ouvir uma pessoa de direita dizer que “a Verdade não interessa”. Aí estamos no desequilíbrio — que também pode acontecer à esquerda, se negar o irracional! —estamos no caminho em que a única inovação são as modas irracionais e cíclicas, estamos a negar a razão, a civilização, a possibilidade de fazer ciência.

Ora, somos animais irracionais, sujeitos a paixões. Se a paixão da ordem habitual, da aparente segurança que ela traz nos levar a ser surdos, a não querer ouvir, ver, interrogar, pensar, essa paixão levar-nos-à ao sofrimento. Creio que  havia umas irmãs do Lampedusa que recusavam a tal mudança para que tudo ficasse na mesma.

Mas há um sofrimento que não é sofrimento, não é visível: podemos ter sempre jantares com criados de libré e ter perdido algo que nem sabemos já que existe: o gosto de procurar a inacessível verdade, de experimentar novos critérios, de estudar.

A direita corre o risco de “vender a alma ao diabo”: quando pede a quem diz algo que incomoda que se cale, ou quando já não pede, ordena que se cale. Ou quando manda prender quem possa pôr em causa as “certezas” em que baseia a sua segurança.. Quando rejeita, quando mata, porque chega aí a defesa do sonho, do único mundo que lhe faz sentido, mesmo que seja injusto, irracional. Mata o mensageiro da verdade, se for preciso, tudo menos vê-la.

 

Na linha da esquerda temos quem inventou que somos livres, o tal livre arbítrio. Quem inventou que somos todos iguais, todos irmãos, filhos do mesmo Pai celeste.

“Não percebia nada de finanças nem consta que tivesse biblioteca” mas é muito citado pela direita, pouco pela esquerda. Paradoxos.

publicado por paradoxosfilho às 01:54
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Segunda-feira, 4 de Dezembro de 2006

O Sol e a Lua

 

  

Desde a queda do muro de Berlim que se fala da morte da esquerda. Façamos uma analogia: o Sol é a direita e a Lua a esquerda. E está a acabar o eclipse da Lua (a esquerda), que durou os anos 90 e o início deste século. De novo ela é visível na nossa noite, sobretudo nos dias em que mais claramente se opõe ao Sol. Materna, sem luz própria, ilumina a nossa fragilidade nocturna, solidária, humilde. É o inconsciente, as emoções, a esperança de um outro dia.

O Sol é o Pai, a força da luz que tem, a consciência, a razão, o que existe sem dúvidas e as combate, o que nada espera do seu declinar: carpe diem!

Fernando Pessoa, que não levava a sério a sociologia, “ciência” nascente, e se tomava ironicamente por “sociólogo”, escreveu sobre isto quando disse que, numa sociedade, existem forças conservadoras e outras progressistas e que o excesso de umas leva à força das outras. Não sei se conhecia o conceito chinês de que o excesso de Yang (a direita) o transforma em Yin (a esquerda) e vice versa mas sabe-se que estudou Alquimia, conheceria o conceito das “bodas alquímicas”, entre o Sol e a Lua, os símbolos para todos os opostos.

Talvez se possa dizer, dialecto-materialisticamente, que a contradição entre o “Comunismo” e o “Liberalismo” gerou a Europa social-democrata que temos, a qual, perdida a Mãe, ainda tem Pai (punhámos o Bush filho nesse lugar!) mas que, quando o perder, há de iluminar, de noite, a Lua que ora nasce; na América do Sul? Connosco, Ibéria? Talvez, mas “o futuro a Deus pertence”, não a nós. O nosso “sociólogo” (F. Pessoa) escreveu sobre a Ibéria, caracterizou os “nuestros hermanos” como organizados (solares, portanto, do cérebro esquerdo, Yang) e a nós como emotivos (lunares, portanto, do cérebro direito, Yin). Preconizou (antes de Franco) a Monarquia para Espanha e a República para Portugal. E a união ibérica, união livre de estados independentes, mas íntima, geradora de civilização, fértil. É sabido como andamos sempre em contra-ciclo, politicamente, mas nunca estivemos tão perto: o Sócrates solar que ilumina com as suas “certezas” este povo lunar e o Zapatero, lunar, que fala de emoções de solidariedade a esse povo solar, organizado, são o prenúncio de um encontro fértil, que ultrapassa as visões de Torga ou de Unamuno.

Dizia F. Pessoa que algo que nos individualiza, a nós, Ibéria, na Europa, é o facto de Carlos Magno ter parado os muçulmanos nos Pirinéus. Vivemos durante 700 anos numa civilização rica, que lia os gregos antes do Renascimento, que permitia que cristãos convivessem com judeus e islâmicos enquanto a Europa era só bárbara; e essa faceta da nossa história ter-nos-á dado a vantagem cultural que nos levou a descobrir o mundo, a “inventar a modernidade”, como ele dizia.

Talvez estejamos fadados, desde esse tempo, para resolver esse fictício “choque de civilizações” que o “pai Bush”, viúvo da U.R.S.S, inventou para se entreter e dar vazão aos seus canhões. E sem sair da Europa, José Saramago, sem uma fenda nos Pirinéus, aqui mesmo, na nossa aldeia global.

estou: chanfrado
publicado por paradoxosfilho às 12:02
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