Um dos paradoxos mais frequentes e necessários da vida talvez seja o aceitar quem erra sem aceitar o “acerto” de errar, aceitando o erro e quem erra. Mostrar a quem errou a razão do erro ser erro, para nós, a liberdade que lhe reconhecemos de errar, a nossa liberdade de julgar o certo e o errado, a nossa liberdade de tentar evitar as consequências dos erros e como aceitamos incondicionalmente a pessoa, com seus erros. Pouca gente percebe que se possa amar sem abdicar da razão. E pouca gente percebe que o pedir-nos que abdiquemos da nossa liberdade de pensar, por amor, é não nos aceitar, é contrário ao mesmo amor. Mas a verdade está no paradoxo.
O paradoxo:
1. O primeiro ministro deve-se demitir por se ter criado a suspeita de que pertença ao grupo dos portugueses para quem a verdade não interessa—um grupo ao qual pertence muita gente importante.
2. O primeiro ministro não se deve demitir porque tem a responsabilidade de fazer aquilo que o seu partido e os portugueses o encarregaram de fazer, tendo-se ele apresentado, de livre vontade.
A solução:
1. Demitir-se do grupo de portugueses para quem a verdade não interessa, por mais importantes que sejam os seus membros (exemplos: investigar se é mesmo verdade que se tem que fechar o aeroporto da Portela ou se isso é a verdade do interesse de quem lucra com a disponibilização dessa área para construir, investigar se um aeroporto novo e enorme é mesmo preciso quando o petróleo vai escassear dentro de meia dúzia de anos e as viagens aéreas vão ser as primeiras a diminuir em número, investigar se a Ota é mesmo o sítio de eleição para Portugal ou se o é para as empresas de construção civil, etc.)
2. Não se demitir da sua responsabilidade de decisor e de democrata e ouvir quem o critica (por exemplo, quem critica que se vá gastar nove milhares de milhões de euros para fazer uma linha férrea entre o Porto e Lisboa que poupa uns 20 minutos à viagem sabendo que esse é o valor da nossa maior empresa, a PT, anunciado quando a quiseram comprar; ou ouvir quem critica o processo de recrutamento de pessoal do Estado para cargos em empresas públicas com altíssimos salários— e reformas! — etc.)
3. Numa palavra: governar fazendo a realidade coincidir com a imagem que quer dar: a de um técnico inteligente, democrata porque ouve os outros, se informa e se preocupa com os mais pobres, honesto e corajoso porque não sujeito a ser intimidado por interesses outros que os do país. Quer ser mais que o que é? Seja! Porque é preciso.
Afinal, evoluir, procurar a verdade, elevar-se à altura do que o destino pede, dos mais belos sonhos, esse é o verdadeiro papel de cada um. A forma segue a função, a imagem resulta do conteúdo, esse é que é preciso cultivar. Só com ele se criam as imagens que resistem ao tempo.
E o nosso é o tempo pós-pós-moderno, o tempo em que os sonhos se fazem reais, se tornam verdade. E os pesadelos! Acordemos imediatamente deles, como o de um País ingovernável, em que os ministros se demitem. Sonhemos antes um País que vai ajudar o Mundo a lidar com a bem próxima escassez de petróleo, com a crise climática, com a pobreza que esta globalização tem trazido, com a previsível guerra. Sonhemos soluções que não sejam cosméticas mas verdadeiras. Porque chega de "marketing", os assuntos são reais e exigem que a verdade interesse. Porque é preciso!
Jose Socrates
Há o real, com a sua física,
há os seres vivos, que também são reais e físicos, à sua maneira
E há o que sentimos,
que só é real para nós.
Quando falamos do que é real para todos
juntamos-lhe, sabendo-o ou sem saber,
querendo ou sem o querer,
Aquilo
Que só para nós existe.
(Mas, disso, só ouvem
o que é real, para eles!)
Porém, tão real como o barulho dos carros
Ou a música que o vento faz nas árvores,
É o incómodo dos carros e a beleza das árvores ao vento.
-- O que sentimos é real para nós!
E quando fazemos o que é real para nós,
Quando o dizemos,
escrevemos, pintamos ou cantamos,
com arte ou sem arte,
-- Somos reais para todos.
A nós se aplicam as leis que só a nós se aplicam
que se vêm juntar às leis da física
e às leis das outras ciências, suas filhas naturais
E somos realmente reais.
Talvez se chame espírito ao que nos impede de ser reais para todos,
ao que só é real para nós, ao que não sabemos mostrar,
fazer, falar, escrever, pintar,
com arte ou sem arte.
E quando, por fim, somos, realmente, o nosso espírito
— que se mostra em cada gesto que fazemos—
talvez deixemos de o ter, porque é de todos
E, pobres de espírito, habitemos o céu.
Como as águas que foram de um rio habitam o mar,
Que lá chegaram.
Alheias ao fluir
do rio que são.
The ‘Tetrahedron’, Barbury Castle, Wiltshire, 17 July 1991.
O falso e o verdadeiro convivem em paradoxo ou é tudo falso?
O mistério é que haja quem tenha a certeza de uma coisa ou de outra, ou de que se não pode ter certezas! "Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino dos céus".
Entendermo-nos parece fácil, se soubermos a língua em que o interlocutor se exprime; e se formos honestos, francos, se procurarmos ser claros, se quisermos comunicar.
Mas, de facto, é difícil!
Apesar da (excessiva!) informação que nos cai semelhantemente em cima, todos os dias, apesar de vermos as mesmas telenovelas (que também nos caem em cima se aparecermos depois do jantar!), apesar de falarmos a mesma língua, todos temos um fundo cultural diferente. Imaginemos um lavrador (dos que já não existem!) a falar com o filho engenheiro. Este propõe-lhe, por exemplo, que se converta à agricultura biológica, apoiada pela União Europeia, fala-lhe das consequências ecológicas dos fertilizantes com azoto que vão ter ao ribeiro e daí ao Mar, dos insecticidas organofosforados que não são degradáveis… e o Pai ouve-o; a cultura popular tradicional (em vias de ser substituída pela das revistas de escândalos) é riquíssima, cheia de bom senso, tem sempre um dito de antiga sabedoria para tudo— mas que fazer quando confrontada com o pensamento científico? Com a verdade baseada na descoberta de leis naturais a partir de factos mensuráveis e não da Teologia? Se aqueles produtos funcionam, porque não havemos de os usar? Só se o Vaticano instruir os padres sobre esse novo pecado… e mesmo assim… mas talvez não seja um bom exemplo, ainda há velhos lavradores que ficariam contentes por abandonar os produtos tóxicos e voltar a fazer a compostagem tradicional do estrume— e braços para o fazer?
Imaginemos antes o jovem engenheiro a falar com o velho senhor das terras, formado em Coimbra, em Direito (claro!) cuja matemática ficou pela tabuada e de ciência conhece a Jurídica, leis mal baseadas em observações, antes na moral e nos costumes, soberanamente alheias à experiência, muitas vezes desastrosa, dos seus efeitos práticos… não é fácil!
Fácil é estabelecer-se uma desconfiança mútua: “como hei de falar de ciência com quem a confunde com moral”? e: "este rapazito quem pensa que é?"
Saltemos para um contributo para ajudar a melhorar a situação, uma convicção partilhada.
Uma cultura, ouso até dizer, uma “civilização” que teve sucesso foi a dos nossos herdeiros, os ingleses, que pelo mundo semearam a língua de Shakespeare. Como se entendem uns com os outros? É minha convicção que os estudantes ingleses, desde os tempos elisabetianos, não se ficaram pela ciência. Todos leram o dito dramaturgo e, com isso, interiorizaram, incluíram na sua estrutura mental a essência da sua civilização, até a sua sabedoria popular. Criaram uma linguagem comum. Há sempre uma frase de Shakespeare de que ambos os interlocutores se lembram, ao mesmo tempo, no decorrer de uma discussão. E há o humor, a ironia, o respeito pelo adversário— tudo está, também, nas peças de teatro que todos conhecem.
Temos Camões, eu sei, poderia servir para nos conhecermos— mas parece que fazemos gala em o não ler! O que me parece interessante lembrar é que houve quem quisesse que tivéssemos uma referência que ultrapassasse a dos ingleses. Quem imaginasse o aparecimento de um “Super-Camões”, sem saber, sabendo, quem o poderia ser. Quem criasse a derivada do drama, o “drama-em-gente”, quem levasse a paradoxal essência da nossa civilização, universal, por portuguesa, a uma obra literária. É minha convicção que, se o lermos, todos, aumentaremos exponencialmente a possibilidade de nos sabermos entender uns com os outros: falaremos a mesma língua. E é ainda minha convicção que isso se vai passar. Mais século menos século!
Os adultos jovens e saudáveis podem ver na humildade uma fraqueza de crianças ou de velhos. Que é que não está ao alcance do Homem, se ele nisso se empenhar? A ciência, o conhecimento, a sabedoria, tudo é ao alcance de quem se meter ao caminho. Podem ver a humildade como coisa pregada por gente que quer poder e que algum lucro tira de essa “virtude” incutir aos fracos.
E podem guardar a convicção de que, se um dia sentirem isso da “humildade” saberão que envelheceram mas não deixarão de pensar como antes.
Porém esbarramos, a cada passo, com aquilo que nos transcende: o tempo, o mistério da morte. E, mesmo nos campos que não são transcendentes, assuntos estudáveis, acessíveis ao nosso esforço, o tempo de uma vida não chega; e cada vez menos chegará. A humildade é uma questão de inteligência, parece ser uma atitude natural.
“A verdade está no paradoxo”, como dizia Fernando Pessoa.
Pediram-nos, de facto, humildade, no tempo do Estado Novo, por exemplo. Lembro-me de me dizerem, quando falava, criança, em democracia: “esse assunto já foi estudado por quem sabe, a democracia não se pode aplicar nos países do sul da Europa, não somos ingleses”—!— e ela nasceu em Atenas, que está à mesma latitude de Lisboa! A cada passo vemos “doutorados” invocar argumentos de autoridade que, uns anos mais tarde, se mostram errados. Talvez seja o caso na polémica referida em outros posts entre o historiador (com livros bem feitos, estudados) V. Pulido Valente e o pouco humilde José Júdice, o qual sugere que a Europa atravesse o Mediterrâneo.
A condição humana pede-nos que tenhamos a ousadia de pensar sobre assuntos em que nos sentimos humildes, ignorantes. E que tenhamos a humildade de nos interrogar sobre os assuntos em que nos sentimos seguros de conhecer.
Uma notícia de hoje: a guerra do Iraque já atingiu o que os USA gastaram no Vietname, em valores actuais: 549 mil milhões de dólares.
Lembremos que muita gente pensou, humildemente, que os USA deviam saber o que estavam a fazer, com tantos conselheiros, das melhores Universidades do mundo. Foi considerado pouco humilde pensar que se não tratava da necessidade estratégica de petróleo mas, simplesmente, da necessidade de lucro da maior indústria americana: a das armas.
Por fim lembremos a sabedoria popular, face à qual me sinto humilde e atrevido, paradoxal: “Deus escreve direito por linhas tortas”.
O Destino parece existir, mas somos nós que o fazemos! Humildemente.
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